Ordem do Dia 04/06/25
Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia

Em 1983, o libanês Amim Maalouf lançou, em Paris, o livro "As Cruzadas vistas pelos Árabes".
Maalouf, um cristão maronita, refugiado na França em razão da guerra civil no Líbano, tornou-se jornalista. Valendo-se de sua fluência em francês, sua formação em economia e sociologia, lançou-se em empreitadas maiores, obtendo sucesso. Hoje é um autor multipremiado.
Adquiri a terceira edição brasileira em 1993, li pela metade, e abandonei a leitura até hoje, ficando o livro abandonado na estante, soterrado por centenas de outros.
Ao retomar a leitura e prestes a concluí-la, caberia destacar dois elementos factuais e um metodológico que se apresentam.
O primeiro fato seria que, naquele período, por volta do século XII, já existia no Oriente Médio uma seita, de tipo terrorista, denominada de "Os assassinos", atuando tanto na Síria quanto no Egito.
Importante ressaltar que, à época, a Grande Síria se estendia por territórios hoje ocupados pelo Iraque, Turquia, Líbano, Jordânia e Israel, que então não existia. Gaza fazia parte do Egito.
Outro fato curioso seria que Saladino, o líder curdo que expulsou, definitivamente, os europeus da "Terra Santa", foi nomeado vizir do Egito pelas suas fragilidades. Não por suas virtudes.
Jovem general, sobrinho de Chirkuh, conquistador sírio do Egito, Saladino assumiu o posto em razão do falecimento do tio.
Era considerado o mais "fraco" entre os emires da linha sucessória. Supostamente, seria fácil de controlar. Ledo engano.
Metodologicamente, por outro lado, temos a versão dos Árabes. Então vencedores das Cruzadas. Ao contrário da praxe, até então conhecíamos a versão dos vencidos. No caso, os europeus.
Outra pérola metodológica seria o enfoque: o autor, embora trabalhe com os mesmos personagens e fatos históricos das Cruzadas, sem contestá-los, apresenta a versão interpretativa dos cronistas Árabes daquele período.
Não há divergência factual, mas substancial enriquecimento das visões e perspectivas desse importante período histórico.
Do que remanesce uma lição: vemos literatura de época, e história de matriz acadêmica, se entrelaçando e construindo um novo tipo de abordagem. Não foi à toa que a obra bombou.
Seria o tipo de leitura que nos ajuda a compreender, um pouco mais, o infindável conflito no Oriente Médio. Berço de todas as civilizações e das maiores religiões monoteístas do planeta.
* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito istrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: [email protected]
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